Enquanto os médicos angolanos ameaçaram hoje paralisar os serviços, caso o Governo não esclareça até quinta-feira os motivos do atraso no pagamento do salário do mês de Maio, os professores também estão sem os salários de Maio e sem qualquer explicação do Governo. Quem se seguirá?
Segundo o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos (Sinmea), Pedro da Rosa, o Governo não informou a razão do atraso e, por isso, a classe “vai ter de reagir mesmo”.
“Em alguns sectores, no meu hospital por exemplo, vai haver o abandono laboral, se até ao dia 15, depois de amanhã, a entidade patronal não disser nada, vamos paralisar mesmo, até que nos digam alguma coisa, porque não se justifica”, garantiu Pedro da Rosa.
O sindicalista salientou que “alguns médicos de hospitais terciários foram pagos, mas a esmagadora maioria não”, realçando que a situação na província de Luanda “é igual”.
“Hospitais gerais, provinciais, municipais, ninguém recebeu, então estamos a pensar realmente numa paralisação, temos contas a pagar e ninguém nos dá satisfação nenhuma. Ninguém diz nada nem transpira nada também, nos disseram no princípio do mês que seriamos pagos entre 15 e 20, isso é o que se diz por aí”, frisou o médico.
O responsável sindical acrescentou que a situação está a provocar vários constrangimentos, entre os quais o absentismo laboral, “por falta de dinheiro para o táxi”.
“Há colegas que já não vão trabalhar, não têm como pagar o táxi. Há pessoas que não têm nada para comer em casa, porque contavam com o salário entre 25 e 30, já estamos no dia 13 e nada, não têm como ir trabalhar”, explicou.
A situação de atraso salarial está a registar-se igualmente em alguns órgãos de comunicação social públicos, nomeadamente a Rádio Nacional de Angola, cujos trabalhadores até à data estão sem receber os seus ordenados, segundo várias fontes contactadas pela Lusa.
Entretanto, o Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof) denunciou hoje que a maioria dos agentes de educação angolanos está sem receber os salários do mês de Maio, sem qualquer explicação por parte do Governo.
Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do Sinprof, Admar Jinguma, disse que só foram pagos até à data os professores das províncias de Luanda e de Benguela e de apenas uma escola da província do Huambo.
“Infelizmente, o Governo não está a cumprir a máxima do Presidente João Lourenço na parte do comunicar melhor. Nós já consultamos quer o Ministério das Finanças quer o Ministério da Educação – a culpa não é do Ministério da Educação, porque não paga salários – mas o Ministério das Finanças, infelizmente, não diz a razão real deste atraso”, disse Admar Jinguma.
Segundo o sindicalista, “especula-se apenas que seja problema de tesouraria”, mas como os professores não podem especular, têm que ter “coisas concretas”.
“Já os consultámos ao mais alto nível, infelizmente, não nos dizem onde está o problema”, sublinhou o sindicalista, referindo que médicos e enfermeiros estavam na mesma situação.
Admar Jinguma disse que vão continuar a fazer pressão, mas se a situação persistir vão ter de “tomar outras medidas” que, para já, não quis avançar. “O que queremos da parte do Governo é transparência. Não custa nada vir a público dizer: meus senhores, nós não vamos ter o dinheiro a tempo pela razão X ou Y”, apelou.
O secretário-geral do Sinprof lembrou que esta situação de salários pagos com atraso tem-se arrastado desde Fevereiro.
“Essa situação já vem desde o mês de Fevereiro, que estamos a receber os salários de forma irregular”, disse, lamentando a situação “difícil” dos professores, que tem causado um elevado índice de absentismo.
“As pessoas não têm dinheiro para comer nem para ir trabalhar. Estamos na fase de revisão para as provas e os professores não estão nas escolas. Alguns conseguem fazer algum esforço, mas aqueles que precisam percorrer longas distâncias onde é que vão tirar o dinheiro para pagar o táxi? Não tem como, é uma situação muito difícil, as escolas estão quase às moscas e essa culpa não pode ser atribuída aos professores”, lamentou.
Folha 8 com Lusa